Bacias Brasileiras

“Restará sempre muito o que fazer…”

Lema da Hidrografia da Marinha Brasileira

As bacias hidrográficas formam os elementos básicos da geração hidrelétrica, e o Brasil possui algumas das maiores bacias hidrográficas do mundo. Esses recursos naturais colocaram o país na posição de produzir a eletricidade mais renovável do planeta.

Introdução

A Figura 1 apresenta as 12 maiores bacias brasileiras;

    • Bacia Amazônica;
    • Bacia Tocantins e Araguaia;
    • Bacia do Atlântico Nordeste Ocidental;
    • Bacia do Parnaíba;
    • Bacia do Atlântico Nordeste Oriental;
    • Bacia do São Francisco;
    • Bacia do Atlântico Leste;
    • Bacia do Atlântico Sudeste;
    • Bacia do Paraná;
    • Bacia do Paraguai;
    • Bacia do Rio Uruguai;
    • Bacia do Atlântico Sul.
Figura 1. Bacias Hidrográficas Brasileiras. Fonte: André Koehne – Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3435247

A topografia determina a fronteira entre das Bacias e a Figura 2 mostra elevações inferiores a 1 500 m correndo paralelas ao oceano no sentido dos meridianos.

Esta característica topográfica determina as principais características das bacias, com exceção da Amazônica, e influencia os projetos de hidrelétricas.

Figura 2. Bacias e Topografia do Brasil (Fonte: Musser, K @ pt.wikipedia.org)

Bacia Amazônica

A Bacia Amazônica consiste na maior bacia hidrográfica do mundo com área de drenagem de 6 110 000 km². Ela ocupa 42% da superfície do território brasileiro, indo dos Andes até o Oceano Atlântico através da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Brasil.

Figura 3.  Bacia Amazônica ( Fonte: Musser, K. @ pt.eikipedia.org)

O Rio Amazonas, seu principal curso de água, possui 6 570 km de extensão e nasce em território peruano, nas geleiras da cordilheira de Santa Anna, a 5 000 m acima do nível do mar.

O percurso inicial, da ordem de 45 Km, repleto de quedas, no sentido norte, forma as lagoas Santa Anna, Cablocacha, Nieveurco, Tinquincocha, Yanacocha e Patarcocha. Após escoar no Lago Lauricocha, toma a denominação de Marañon, ainda no Andes, onde recebe pequenas contribuições, e após atravessar o Pongo de Manseriché, segue aproximadamente a direção leste até a foz, no Atlântico.

Ele entra no Brasil na confluência com o rio Javari, próximo a Tabatinga, onde passa a se chamar Solimões. Somente a partir da confluência com o rio Negro, seu nome se torna Amazonas. Próximo a Manaus, bifurca-se com o Paraná do Careiro, estimando-se aí uma largura da ordem de 1 500m e profundidade em torno de 35 m. A região entre o rio Negro e a foz recebe a denominação de Baixo Amazonas. Merece destaque a cota de Manaus de apenas 60 m em relação ao oceano Atlântico.

Em virtude de sua posição geográfica, praticamente paralela ao Equador, o período de chuvas bianual caracteriza o regime fluvial da Bacia Amazônica. Esta característica se torna extremamente importante porque pelo menos um dos períodos úmidos anuais ocorre durante o período seco das Bacias do Sudeste e Nordeste.

A Figura 2 revela que a Bacia Amazônica em território brasileiro possui elevações inferiores a 100m, o que, apesar do imenso volume d’água, reduz a potência gerada dificultando o projeto de hidrelétricas.

Figura 4. Usinas da Bacia Amazônica. Fonte: ONS

De acordo com a Figura 4, a região possui 18 usinas, totalizando 23 000 MW. Observa-se que a maioria opera a fio d’água1 e se encontram localizadas nos afluentes da margem direita em decorrência da dificuldade de fazer o cruzamento das linhas de transmissão sobre o rio Amazonas. A Figura 5 mostra a localização dessas usinas.

Figura 5. Bacia Amazônica em território brasileiro. Fonte: ANA

Bacias Tocantins e Araguaia

A bacia hidrográfica Tocantins-Araguaia se localiza quase que integralmente entre os paralelos 2º e 18º e os meridianos de longitude oeste 46º e 56º. Sua configuração alongada no sentido longitudinal, seguindo as diretrizes dos dois importantes eixos fluviais – o Tocantins e o Araguaia – que se unem no extremo setentrional da Bacia, formando o baixo Tocantins, que desemboca no Rio Pará, pertencente ao estuário do rio Amazonas.

Figura 6. Bacia Tocantins Araguaia. Fonte:ANA

A bacia do rio Tocantins possui uma vazão média anual de 10 900m3/s, volume médio anual de 344 Km3 e uma área de drenagem de 767 000 Km2, que representa 7,5% do território nacional. A Bacia se distribui nos Estados de Tocantins e Goiás (58%), Mato Grosso (24%); Pará (13%) e Maranhão (4%), além do Distrito Federal (1%).

Figura 6. Usinas na Bacia Tocantins Araguaia Fonte:ONS

A bacia do Tocantins faz fronteira com bacias de grandes rios brasileiros, ou seja, ao Sul com a do Paraná, a Oeste com a do Xingu, e a Leste com a do São Francisco. Grande parte de sua área está na região Centro Oeste, desde as nascentes dos rios Araguaia e Tocantins até sua confluência, na divisa dos estados de Goiás, Maranhão e Pará. Desse ponto para jusante a bacia hidrográfica entra na região Norte e se restringe a apenas um corredor formado pelas áreas marginais do rio Tocantins.

O Rio Araguaia não possui usinas no momento, que em decorrência das questões ambientais da ilha do Bananal, grande reserva indígena. Porém, o Tocantins se encontra explorado em toda sua extensão e foi a fronteira da geração hidrelétrica no Brasil até as usinas do Rio Madeira e do Xingu.

De acordo com a Figura 6, as 7 usinas instaladas no Tocantins somam atualmente 12 780 MW e Serra da Mesa ocupa a posição de usina com maior reservatório de acumulação no Brasil. Apesar de ser considerada uma usina da região norte, ela está localizada em Goiás, próximo ao Distrito Federal.

Bacia do Parnaíba

A Bacia do Parnaíba ocupa 333 056 km2 nos Estados do Ceará, Piauí, e Maranhão2.

Figura 7. Bacia do Parnaíba. Fonte:ANA

A única usina hidrelétrica existente nesta bacia é a usina de Boa Esperança com 225 MW.

Figura 8. Usinas da Bacia do Parnaiba

Bacia do São Francisco

A bacia do São Francisco, a mais importante da região Nordeste, abrange parte do território dos Estados de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Alagoas, e se encontra entre as latitudes 7º 00´ e 21º 00´ S e as longitudes 35º 00´ e 47º 40’ W.

Ela possui uma vazão média anual de 3 360m3/s, volume médio anual de 106Km3 e uma área de drenagem de 631 000 Km2, representando 7,5% do território nacional. A maior parte, 83% da área da bacia, se encontra nos Estados de Minas Gerais e Bahia, 16% nos Estados de Pernambuco, Alagoas e Sergipe, e o restante 1% no Estado de Goiás e Distrito Federal.

O rio São Francisco, o mais importante da bacia, com uma extensão de 2 700 Km, tem suas nascentes na Serra da Canastra, em Minas Gerais. Atravessando a longa depressão encravada entre o Planalto Atlântico e as Chapadas do Brasil Central, segue a orientação sul-norte até aproximadamente a cidade de Barra, dirigindo-se então para Nordeste até atingir a cidade de Cabrobó, quando muda para Sudeste para desembocar no Oceano Atlântico. Sua importância se deve:

    • ao volume de água transportado através de região semiárida;
    • à contribuição histórica e econômica na fixação das populações ribeirinhas e na criação das cidades hoje plantadas ao longo do vale;
    • ao potencial hídrico passível de aproveitamento em futuros planos de irrigação dos excelentes solos situados à sua margem.
Figura 9. Bacia do São Francisco. Fonte:ANA

Ele conta com 9 usinas em operação que somam 10 500 MW, seu potencial energético se encontra praticamente todo utilizado e parte de sua água tem sido desviada para outros fins.

Figura 10. Usinas São Francisco. Fonte:ONS

Bacia Atlântico Leste

A Bacia do Atlântico Leste ocupa 388 160 km2 dos Estados da Bahia, Minas Gerais, Sergipe e Espírito Santo. Esta Bacia, assim como todas as Bacias do Atlântico, se situa entre a Serra do Mar e o oceano.

Figura 11. Bacia do Atlântico Leste. Fonte:ANA

Esta Bacia possui apenas quatro usinas hidrelétricas que totalizam 1 081 MW.

Figura 12. Usinas da Bacia do Atlântico Leste

Bacia do Atlântico Sudeste

A Bacia do Atlântico Sudeste abrange a região mais populosa do país e possui 214 629 km2, que representa 2,5% da área do país, abrangendo os Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, e Paraná. Ela possui vazão média de 3 167 m3/s e se divide em cinco sub-bacias: Bacia do Rio Doce, Bacia Litorânea RJ/ES, Bacia Litorânea SP/RJ, Bacia Paraíba do Sul e Bacia Ribeira de Iguape, conforme mostra a Figura 13. 

A Bacia do Paraíba do Sul possui elevada importância para o país porque fornece água potável para a maioria da população da região.

Figura 13. Bacia do Atlântico Sudeste

A Figura 14 mostra as 28 usinas em operação na Bacia que totalizam 4 300 MW. Merecem destaque as usinas de Bombeamento de Santa Cecília e Vigário, que transferem água da sub-bacia dos Rios Paraíba do Sul e Piraí para a sub-bacia do Ribeirão das Lages.

Figura 14. Usina da Bacia do Atlântico Sudeste

Bacia do Paraná

A Bacia do Paraná compreende aproximadamente 879 873 km2, que representa 10% do território brasileiro, ocupa a segunda posição entre as maiores bacias brasileiras, ficando atrás apenas da Bacia Amazônica, e engloba a região mais desenvolvida do país. 

Ela possui 11 sub-bacias, conforme mostra a Figura 15, mas as mais importantes para a geração de energia elétrica são:

    • Paranaíba;
    • Grande;
    • Tietê;
    • Paranapanema;
    • Iguaçu
    • Paraná

Esta região possui a maior concentração de usinas hidrelétricas do país e, talvez por este motivo, se tornou a região mais desenvolvida.

Figura 15. Bacia do Paraná. Fonte:ANA
Figura 16. Usinas Hidrelétricas na Bacia do Paraná. Fonte:ANA

Sub-Bacia do Paranaíba

A sub-bacia do Paranaíba se situa na parte norte da Bacia do Paraná, ocupando principalmente os Estados de Goiás e Minas Gerais, e com as nascentes de afluentes próximas de Brasília e Goiânia.

Figura 17. Usinas do Paranaíba. Fonte:ONS

A Figura 17 apresenta as 19 usinas em operação na Bacia do Paranaíba que totalizam uma potência instalada de 8 338 MW, das quais 13 possuem reservatório de acumulação.

Sub-Bacia do Rio Grande

A sub-bacia do Rio Grande se situa na parte nordeste da Bacia do Paraná, com suas nascentes em Minas Gerais e São Paulo próximas à Serra do Mar. Suas águas correm na direção noroeste até se encontrarem com o Paranaíba para formar o Rio Paraná. A Figura 18 apresenta as 15 usinas situadas na Bacia, que totalizam 7 619 MW. Observa-se que 40% de suas usinas possuem reservatórios de acumulação.

Figura 18. Usina da Bacia do Rio Grande. Fonte: ONS

Sub-Bacia do Tietê

A sub-bacia do Tietê ocupa 73 548 km2, se encontra ao sul da Bacia do Rio Grande correndo em paralelo, parte no Estado de Minas e o restante no Estado de São Paulo. A Figura 19 apresenta as 12 usinas hidrelétricas em operação, que totalizam 9 102 MW. Do total de usinas, duas são de bombeamento (Traição e Pedreira) e quatro de acumulação (Eddard de Souza, Ponte Nova, Billings e Guarapiranga). Nenhuma delas gera energia, mas acumulam água e/ou elevam a água para que outras usinas gerem energia. A Usina de Billings armazena água bombeada pela usina de Pedreira e fornece a água para a Usina de H. Borden, na Bacia do Rio Cubatão, que pertence à Bacia do Sudoeste.

Figura 19. Usinas da Bacia do Tietê. Fonte:ONS

Sub-Bacia do Paranapanema

A Bacia do Paranapanema abrange uma área de 106 380 km2 ao sul da Bacia do Tietê, correndo na direção oeste através dos estados de São Paulo e Paraná.

A Figura 20 apresenta as 12 usinas hidrelétricas da Bacia que totalizam 3 192 MW de potência instalada.

Figura 20. Sub-bacia Paranapanema

Sub-bacia do Iguaçu

O Rio Iguaçu é o maior afluente do Rio Paraná e sua Bacia abrange 65 893 km2, toda nos Estados do Paraná e Santa Catarina. Sua Bacia se localiza ao sul da Bacia do Paranapanema correndo para oeste até se encontrar com Rio Paraná.

Conforme a Figura 21, existem 8 usinas hidrelétricas em operação na Bacia do Iguaçu totalizando 7 264 MW de potência.

Figura 21. Bacia do Iguaçu

Sub-bacia Paraná

Finalmente, a Figura 22 apresenta as cinco usinas no Rio Paraná, que totalizam 20 583 MW, considerando a totalidade da potência instalada de Itaipu. Desta maneira, a potência instalada total de usinas hidrelétricas na Bacia do Paraná soma 56 098 MW, que representa mais de 50% das hidrelétricas em operação atualmente no país.

Figura 22. Usinas no Rio Paraná

Bacia do Paraguai

A Bacia do Paraguai ocupa 363 446 km2, que equivale a 4,3% do território brasileiro, ocupando principalmente os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Ele nasce na serra dos Parecis, Mato Grosso, desemboca na Argentina e compartilha margens com a Bolívia e o Paraguai.

Figura 23. Bacia do Paraguai. Fonte: ANA
Figura 24. Usinas Hidrelétricas na Bacia do Paraguai. Fonte: ANA
Figura 25. Usinas da Bacia do Paraguai. Fonte: ONS

As Figuras 24 e 25 apresentam as cinco Usinas Hidrelétricas existentes na Bacia do Paraguai, que totalizam 662MW.

Bacia do Uruguai

A Bacia do Uruguai ocupa 274 300 km2 nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Assim como todas as bacias ao Sul do Tocantins e São Francisco, ela corre para oeste e depois para o sul.

Figura 26. Bacia do Uruguai. Fonte:ANA

A Figura 27 apresenta as 11 usinas em operação nesta Bacia, que totalizam 5 752 MW.

Figura 27. Usinas da Bacia do Uruguai. Fonte: ONS

Bacia do Atlântico Sul

Finalmente, a Bacia do Atlântico Sul possui 186 080 km2, corresponde a 22% do território brasileiro nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ao contrário das outras, a Bacia do Atlântico Sul tem um conjunto independente de sub-bacias. Essa característica a torna a menor bacia brasileira e explica o comportamento heterogêneo de suas usinas.  

Figura 28. Bacia Atlântico Sul

A Figura 29 mostra as dez usinas hidrelétricas da bacia que totalizam 3 500 MW.

Figura 29. Usinas da Bacia do Atlântico Sul. Fonte: ONS

Referências

  1. ANA, Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil: Regiões Hidrográficas Brasileiras, Edição Especial, Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos – SPR, 2015.
  2. ONS, Hidrelétricas do SIN -2020-2040, 5/2020, Disponível em <http://www.ons.org.br/paginas/sobre-o-sin/mapas>, Acesso em:16 jun. 2020, 11:50:00.